A Lua e os Ciclos Femininos

7.11.16


AS FASES DA LUA

A Lua é o corpo celeste mais próximo da Terra (384.000 km de distância), que se movimenta tanto ao redor do planeta quanto de si mesma. Seu movimento ao redor da Terra dura aproximadamente 27 dias e 8 horas, tempo chamado de período sideral. Já o período entre duas fases iguais e consecutivas é chamado de lunação (ou mês lunar) e dura aproximadamente 29,5 dias.

À medida que a Lua se desloca em sua órbita ao redor da Terra, é vista formando alguns ângulos com o Sol (que é a sua fonte de iluminação). Por isso, ela aparece sob diferentes aspectos (fases lunares), durante os quais sua forma parece variar gradualmente, sempre a partir de uma mesma face - ainda que todas as faces da Lua sejam iluminadas pelos raios solares, somente um lado pode ser visto pela Terra.

Para compreender o movimento de uma lunação, é possível divido-lo em quatro principais fases: Lua novaLua quarto-crescenteLua cheia e Lua quarto-minguante. Na Lua nova, a face iluminada não pode ser vista da Terra, e vai ficando cada vez mais visível até, aproximadamente 1 semana depois, chegar em sua fase Quarto-crescente - nesta fase, metade do disco iluminado já pode ser vista da Terra. Na Lua cheia, toda a face iluminada está voltada para a Terra, e torna a ficar gradativamente menos visível, chegando em sua fase Quarto-minguante, quando, novamente, somente metade do disco iluminado pode ser visto, mas em sentido contrário ao de sua fase Quarto-crescente.

Para marcar a passagem do tempo, alguns povos antigos se baseavam em fenômenos naturais que se repetem periodicamente, como os movimentos do Sol e da Lua. Há cerca de 5.500 anos, surgiu um dos primeiros calendários, o dos povos que habitavam a Babilônia. O calendário babilônico era lunissolar, o que significa que utilizava o Sol e a Lua como referências. O ano era composto de 12 meses lunares (com durações de 29 ou 30 dias), possuindo, portanto, 354 dias - 11 a menos que o ano contado a partir da observação do Sol. Para ajustar o ano lunar com o ano solar, periodicamente era acrescentado um 13º mês.

"A Lua sempre foi considerada o marcador natural das mudanças periódicas que ocorriam no reino mineral, vegetal e animal, assinalando as etapas e os padrões do eterno ciclo de vida e morte. Como um espelho prateado, a Lua mostrava o momento certo para o plantio, a colheita, o acasalamento de animais, a caça, a pesca, as viagens e as mudanças climáticas" (FAUR, 2015, p.453).

O CICLO LUNAR PESSOAL

Além de ser uma das principais influências de calendários em uso pelos povos primitivos, o padrão rítmico da Lua era relacionado aos ciclos femininos, às épocas de fertilidade animal, de plantio e colheita e ao movimento das marés. Considerada por várias culturas como o símbolo celeste do feminino, a Lua era invocada em rituais para promover a fertilidade e assegurar o crescimento e a nutrição vegetal, animal e humana.

É fato que a Lua exerce influências sobre as marés, as plantas e os comportamentos animais. E ainda que haja bastante especulação acerca de tal temática, suspeita-se que ela realmente também exerça influências sobre o corpo humano, além de simbolizar movimentos dos ciclos femininos. Um exemplo é que a duração aproximada dos ciclos menstruais é a mesma do mês lunar - 29 dias. Além disso, em muitos idiomas, as palavras para Luamês menstruação têm raízes semelhantes.

Donna Cunnighan afirma que, na Antiguidade, mulheres costumavam menstruar juntas na mesma fase lunar, tendo em vista que, principalmente na vida tribal, elas viviam em grande proximidade e celebravam juntas cada mudança de seus ciclos e as correspondências com os ciclos naturais. Ademais, cada fase dos ciclos femininos seria representada por alguma figura arquetípica proveniente de divindades femininas, das faces da Deusa-mãe e fases da Lua.

A mulher seria, portanto, regida por um ciclo lunar pessoal, em que as fases lunares representam os estados da alma, os valores do inconsciente, as emoções, o psiquismo, a receptividade, sensitividade, fertilidade, inspiração e intuição. Cada passagem da Lua caracteriza aspectos psicológicos e estágios de transformação que acompanham a trajetória mensal e anual da vida da mulher.

Na Lua Nova, a maré está baixa e a seiva das plantas está concentrada nas raízes. Relacionada ao Inverno, esta etapa representa o arquétipo da Bruxa. É o tempo oportuno para transmutar as energias e dar lugar às novas coisas, iniciar novos projetos, plantar novas sementes.

No Quarto-crescente, com o aumento da influência gravitacional da Lua sobre a Terra, a seiva das plantas começa a subir. Esta etapa é relacionada à Primavera e representa o arquétipo da Jovem, sendo uma fase de crescimento, fertilidade, período ideal para revisar projetos e dar início a outros.

Na Lua Cheia, a maré está alta e a seiva das plantas se encontra nas folhas. É uma fase relacionada ao Verão, representando o arquétipo da Mãe. A energia está em seu potencial máximo e é tempo de muita expressividade, criatividade, plenitude, amadurecimento e colheita dos frutos plantados.

No Quarto-minguante, a seiva das plantas começa a se mover para baixo, com a diminuição da influência gravitacional da Lua. É relacionada ao Outono e representa o arquétipo da Xamã, a Anciã, estando presentes energias de finalização, desintegração, reorganização, limpeza, reflexão e descanso.

CICLO DA LUA BRANCA E CICLO DA LUA VERMELHA


Mirella Faur, referência no movimento de Retorno do Sagrado Feminino, diz que, do ponto de vista mágico, há dois tipos de ciclos menstruais determinados em função da fase lunar em que ocorre a menstruação: o ciclo da lua vermelha e o ciclo da lua branca.

A mulher pertence ao ciclo da lua branca quando ovula na lua cheia e menstrua na lua negra (sendo o quinto dia a lua minguante, a lua negra acontece nos três dias que antecedem a lua nova). Quando a mulher menstrua por esse ciclo, geralmente ela apresenta melhores condições energéticas parar expressar suas energias criativas e nutridoras, já que nesse caso o auge da fertilidade ocorre durante a lua cheia, estabelecendo relação com o arquétipo da mãe e cuidadora - aspecto do feminino normalmente aceito pelo sistema patriarcal.

Por outro lado, a mulher que ovula na lua negra e menstrua na lua cheia pertence ao ciclo da lua vermelha. Nesse caso, como o auge da fertilidade acontece na fase escura da lua, as energias criativas são direcionadas ao desenvolvimento interior e a energia sexual é usada para fins mágicos, relacionando-se com o arquétipo da bruxamaga ou feiticeira - aspecto do feminino costumeiramente negligenciado e temido pelo patriarcado.

"Ambos os ciclos são expressões da energia feminina, nenhum deles sendo melhor ou mais correto que o outro. Ao longo de sua vida, a mulher vai oscilar entre os ciclos Branco e Vermelho, em função de seus objetivos, de suas emoções e ambições ou das circunstâncias ambientais e existenciais" (FAUR, 2015, p. 499).

Para pertencer ao ciclo da lua branca ou vermelha, a mulher não necessariamente precisa ovular e menstruar nos dias exatos da lunação mencionada anteriormente. Se, por exemplo, ela menstruar dois dias após a lua negra, ainda assim pertencerá ao ciclo da lua branca. Segundo Mirella Faur, a tendência é que, com o passar do tempo, exercitando essas práticas de auto-observação, os ciclos passem a regular-se de forma mais sincrônica.

A influência das energias lunares características de cada fase não é fixa e, nas mulheres, depende também do ciclo ao qual ela pertence (Lua Vermelha ou Lua Branca) e do momento da vida de cada uma. Desse modo, para sintonizar-se com as energias da Lua e compreender os próprios processos, é importante meditar e observar os próprios ciclos.

"Se o ano é uma canção, a Lua é a batida do tambor que marca o ritmo com suas fases, mudando o tom ao passar pelos signos zodiacais, crescendo e minguando por treze vezes enquanto completa um círculo perfeito" (MORGAN, 1995, apud FAUR, 2011, p. 207).

REFERÊNCIAS

CUNNINGHAN, D. A Lua na Sua Vida. Rio de Janeiro: Record - Nova Era, 1999.
FAUR, M. O Anuário da Grande Mãe. São Paulo: Editora Alfabeto, 2015.
FAUR, M. Círculos Sagrados para Mulheres Contemporâneas. São Paulo: Editora Pensamento, 2011.

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